Cereais duplo propósito na Integração Lavoura Pecuária é tema de Dia de Campo no Noroeste


A aveia preta figura entre as principais culturas de inverno no RS e ocupa anualmente mais de 2 milhões de hectares, na cobertura do solo ou na integração-lavoura-pecuária


Evento foi realizado na propriedade de Ivonei Librelotto, e contou com mais de 800 participantes

Em Boa Vista das Missões, no Noroeste do RS, em apenas dez dos 111,8 hectares que possui, o produtor rural Ivonei Librelotto conseguiu mostrar em um Dia de Campo os ótimos resultados obtidos com a tecnologia de Integração Lavoura Pecuária (ILP) com a utilização de cereais de duplo propósito. O evento em sua propriedade foi realizado no dia 07 de agosto, no qual compareceram mais de 800 pessoas. Além de sete estações que mostravam tecnologias e recomendações, foi possível visualizar ensaios com gado de leite e gado de corte em pastagens de inverno, como aveia, azevém, trigo, triticale, dentre outros. Este é 4º ano em que o produtor abre as portas de sua propriedade para um Dia de Campo.        

Flexibilidade frente ao mercado

O produtor Ivonei Librelotto, anfitrião do evento, mostrou seus resultados no manejo do pasto ao invés de falar sobre o assunto. No campo foi apresentado um ensaio de ganho de peso com a utilização do trigo BRS Tarumã, onde os novilhos de corte ganharam 1,47 kg por dia. A expectativa ainda é colher 40 sacos de grãos após dois pastejos. Num cálculo simples, considerando o preço do boi vivo a R$ 3,50, o produtor já registra um ganho com a engorda dos novilhos equivalente a 80 sacos de trigo. “É uma colheita antecipada que garante a rentabilidade do produtor através do ganho na carne, não dependendo das oscilações do clima e do mercado até a colheita dos grãos”, esclarece o analista da Embrapa Trigo, Giovani Faé. A flexibilidade de ganhos proporcionada pelos cereais de inverno de duplo propósito frente ao mercado também foi vista como uma das maiores vantagens pelo pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Sérgio Juchem. “Se o grão não estiver tão valorizado naquele momento, por exemplo, o produtor pode optar por capitalizar todo o investimento em ganho de peso”, acrescenta.

Além da aveia preta, o uso do trigo BRS Tarumã como cereal de duplo propósito foi apresentado pela Embrapa Trigo como uma alternativa na integração lavoura-pecuária, servindo tanto ao pastejo, como na substituição do milho para a alimentação animal e produção de farinha. A aveia branca foi apresentada na estação parceira da Agrobom como opção de investimento de maior custo em relação a outros cereais, mas de retorno garantido na rápida formação da pastagem, e valor nutricional superior. Para os profissionais da Embrapa Trigo, Evandro Lampert, Giovani Faé e Henrique Pereira dos Santos, o diferencial no planejamento forrageiro não está na escolha do material, mas no manejo das pastagens. “Para garantir um pasto de qualidade é preciso avaliar a altura das plantas, que deve estar com folhas novas e abundantes”, avalia Faé.

Teste do canivete

O momento de retirar o gado do piquete também vai interferir no planejamento, enquanto que um pasto rapado não vai rebrotar a tempo de permitir um segundo ou terceiro pastejo. “Após o pastejo, é importante que o produtor deixe um resíduo, uma sobra de forragem que permita uma rebrota mais vigorosa e assim o retorno mais rápido dos animais à pastagem”, explica Juchem, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul. Um bom teste ensinado pelos técnicos da Embrapa Trigo para saber se a pastagem ainda renderá mais pastejos é usar um canivete para cortar a planta rente ao solo. “Ao ser feito um corte longitudinal no perfilho da planta, pode-se observar a altura do ponto de crescimento. Abaixo do ponto de crescimento a haste está oca. Quando isso acontece o perfilho entrou em estágio reprodutivo e não vai emitir novas folhas”, explica Lampert.

34 litros de leite por vaca/dia

De acordo com os pesquisadores João Carlos Oliveira e Sérgio Juchem, da Embrapa Pecuária Sul, entre 40 e 60% do custo do leite está na alimentação das vacas. A unidade energética (energia metabolizável) obtida com o uso de feno ou silagem custa o dobro da obtida com pastagens, enquanto que o uso de concentrado eleva o custo da unidade energética em quatro vezes. “A produção de forragem por pasto é a maneira mais econômica de se produzir leite. Por isso, é importante que a pastagem seja bem manejada e que o produtor saiba explorar o potencial produtivo de cada forragem para fazer a melhor escolha”, afirma Juchem.

Ciente disso está o produtor Ari Busanello, vizinho de cerca do anfitrião Ivonei Librelotto, que é modelo na adoção de tecnologias para aumentar a produção de leite, atividade com que trabalha e mantém a família há mais de 30 anos. Busanello, durante o Dia de Campo, apresentou seu rebanho de 28 vacas holandesas em lactação, que tem alcançado a incrível média de 34 litros/vaca/dia. No Brasil, a média de produção de leite é de 7 litros/vaca/dia, mas pesquisas avaliam que, com o uso de cereais e bom manejo das pastagens, o potencial de produção pode atingir até 20 litros/dia. Na propriedade de Ari Busanello a média ultrapassou 60% acima do que a pesquisa verificou. O segredo, segundo ele, é o balanço nutricional da dieta (com 18% de proteína), aliado ao melhoramento genético constante do rebanho e o conforto dos animais. Ao final dos dois pastejos no trigo BRS Tarumã, Ari Busanello ainda espera colher mais de 60 sacos de grãos, a exemplo do resultado alcançado em 2010.

Conforto e bem-estar animal

Além dos cuidados com a alimentação, o produtor precisa ficar atento aos fatores que interferem no bem-estar dos animais e no consumo de alimentos e água, como a umidade relativa, instalações, manejo e intempéries. Os agrônomos da Emater/RS–Ascar Vilson Nadin e Ana Clara Viana explicam que a temperatura ideal para o gado leiteiro, a chamada zona de conforto, é entre 0,5ºC e 25ºC, acima disso os animais começam a sofrer estresse calórico, podendo reduzir de 10% a 25% o consumo de alimentos, o que afeta diretamente na produção leiteira", explicou o agrônomo Vilson Nadin.

Outra observação dos agrônomos foi com relação à temperatura do rúmen (parte do sistema digestivo do gado) em relação à temperatura da água ingerida. Eles ressaltaram que o rúmen está a uma temperatura entre 38ºC e 42ºC e o recomendado é que o animal consuma água a uma temperatura de 25ºC a 30ºC, visando não atrapalhar o processo de ruminação. "O gado leiteiro gosta de sombra e água morna", brincou Nadin. Entre os outros fatores, foram destaques também a presença de sombra, por meio da formação de bosques e implantação do sistema agrosilvopastoril; a disponibilidade de água em quantidade e qualidade; ambientes ventilados, em especial na sala de ordenha, e manejo de pastagens, com a possibilidade de oferecer aos animais pastejos noturnos.

Nitrogênio

Enquanto para muitos produtores que participaram do Dia de Campo, a importância do nitrogênio já era conhecida, para a estudante da Escola Agrícola de Palmeira das Missões, Carine Meler, de 18 anos, ver isso na prática foi novidade. “O Dia de Campo foi um complemento para o que foi visto e estudado em sala de aula, pois abordou exatamente o que aprendemos na teoria, que é uma base técnica importante. O que mais me chamou a atenção foi o consorciamento entre gramíneas e leguminosas, visando à fixação de nitrogênio no solo", frisou. 

O dia de campo contou com a colaboração de parceiros, como a Embrapa Trigo, Embrapa Pecuária Sul, Emater-RS/Ascar, Sementes Cometa, SISNOR, Cooperjab, Agrobom e Governo do estado do Rio Grande do Sul.

 

Informações 
Jorn. Manuela Bergamim MTb 1951/ES
Jorn.Fernando Goss MTb 1065/SC
Estagiária de Jornalismo - Juliane Couto
Núcleo de Comunicação Organizacional - NCO
Embrapa Pecuária Sul - Bagé/RS
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