I Fórum da Rede Leite comprova potencial da cadeia produtiva leiteira


Resultados indicam benefícios da cadeia produtiva do leite ao desenvolvimento do Noroeste Gaúcho.


Prefeito de Ijuí, Fioravante Ballin, abre I Fórum da Rede Leite

O I Fórum da Rede Leite, realizado no dia 19 de maio de 2011, em Ijuí, destacou os resultados econômicos e sociais decorrentes do redesenho do sistema produtivo das 50 pequenas propriedades rurais que aderiram ao programa. O trabalho envolve pesquisa, extensão, ensino e a participação direta dos pequenos produtores. A região Noroeste abriga a principal bacia leiteira do RS, segundo maior produtor de leite do País, atrás apenas de Minas Gerais.

 Além de técnicos, professores e estudantes, o evento contou com a presença de produtores e representações de municípios da região. Pela Embrapa Pecuária Sul (Bagé/RS), participaram o chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento, Daniel Montardo, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia, Estefanía Damboriarena, e os pesquisadores Gustavo Martins e Marcos Borba. Também estiveram presentes o pesquisador Jaime Wunsh e o analista Sérgio Bender, da Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS). A abertura foi feita pelo prefeito de Ijuí, Fioravante Balin, e pelo reitor da Unijuí, Martinho Luís Kelm.

 Kelm destacou o envolvimento e o compromisso das instituições da Rede Leite para a melhoria da qualidade de vida do produtor e a perspectiva de permanência dos jovens na propriedade. “Queremos que a atividade possa ser uma alternativa escolhida pelo produtor, e não imposta a ele”, disse. “O Fórum não apenas impacta no fortalecimento das instituições envolvidas como pauta novas questões e pesquisas para o a sustentabilidade das famílias e o desenvolvimento integrado da nossa região”, completou o prefeito de Ijuí.

 Um vídeo produzido pela Emater/RS – Ascar mostrou depoimentos dos produtores envolvidos no programa Rede Leite. A interação deles com os técnicos das instituições da Rede Leite levou à construção coletiva de estratégias de manejo que melhoraram a eficiência dos sistemas produtivos, elevando os índices de produtividade e o bem-estar das famílias. Entre as medidas adotadas, eles citam o uso alternado de piquetes para o pastoreio dos animais, a observação das condições de solo e o manejo mais eficiente da pastagem. Além disso, os produtores começaram a visitar as propriedades dos vizinhos, e com isso saíram do isolamento e compartilharam experiências e ideias.

 Integração

 O painel da manhã enfocou a história e os resultados do programa Rede Leite. A professora Sandra Fernandes, chefe do Departamento de Estudos Agrários da Unijuí, apresentou as bases conceituais da metodologia pesquisa-desenvolvimento, norteadora das ações da Rede Leite. Segundo ela, o modelo tradicional de soluções – a pesquisa entrega uma tecnologia aos extensionistas, que a difundem para os produtores – é incompleto. “Propusemos a integração entre pesquisa, extensão e agricultores de forma mais intensiva. Isso muda completamente a visão dos produtores, e tanto eles como nós aprendemos muito mais e conseguimos avançar na solução dos problemas”, disse. Ela salientou que o modelo pesquisa-desenvolvimento reconhece a diversidade, considera as particularidades e vincula as diferentes atividades desenvolvidas na propriedade. “Práticas e tecnologias podem ser geradas dentro da propriedade. A participação do agricultor é imprescindível”.

 Já o engenheiro agrônomo da regional Ijuí da Emater/RS – Ascar, Pedro Urubatan, falou sobre a construção da rede de pesquisa, ensino e extensão e de agricultores e dos primeiros resultados, como a melhoria do manejo das pastagens e a aproximação das instituições, o que permitiu a conexão de projetos e evitou a repetição de esforços. Ele apresentou indicadores como litros/hectare, litros/vaca/dia, margem bruta e margem líquida, explicitando o contraste entre as propriedades acompanhadas nos últimos quatro anos, bem como a evolução de aspectos relacionados à renda, produção e produtividade. Em uma delas, por exemplo, a margem líquida obtida no ano com a produção de leite em 10,5 hectares foi de, aproximadamente, R$ 40 mil, cerca de R$ 4 mil por hectare. “Foi uma construção coletiva e temos aqui hoje pessoas determinantes desse processo. E o acúmulo de conhecimento que construímos está acontecendo no campo”, finalizou.

 Os resultados positivos têm sido comemorados por produtores como Nelson Olbermann, do município de São Valério do Sul. Ele contou que, a partir dos conhecimentos gerados na Rede Leite, a produção em sua propriedade saltou de 54 mil litros em 2006 para 140 mil litros no ano passado. “Pequenas ações de manejo trouxeram bons resultados. Vimos que, no nosso caso, não precisávamos adubar a pastagem, apenas utilizar nitrogênio. Além disso, aprendi muito visitando outras propriedades trocando conhecimentos”, lembrou Nelson, que está buscando melhorar a genética do rebanho para aumentar ainda mais a produção.

 Representante do poder público dos municípios no Fórum, o ex-secretário municipal de Agricultura de Esperança do Sul, Ênio Richter, destacou a importância da Rede Leite no ponto de vista da gestão pública, principalmente na questão da fixação das famílias no campo. “Esse desafio continua. Dia a dia vejo a evasão dos produtores. Mas o trabalho desenvolvido pelas instituições pode mostrar que é possível viver aqui”, declarou.

 Perspectivas 

O painel da tarde abordou perspectivas para a pecuária de leite na região noroeste. O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Marcos Borba, falou sobre a identidade como estratégia de desenvolvimento. Para Borba, o novo modelo de desenvolvimento deve restabelecer o “local” e suas particularidades como locus para a construção de estratégias criativas de transformação da realidade. “As estratégias de desenvolvimento devem ser territorializantes e territorializadas”, disse. Nesse sentido, o desenvolvimento endógeno (“de dentro para fora”) deve ser entendido como uma ação coletiva consciente, a partir da mobilização do capital humano, do capital social e do uso eficiente dos recursos naturais e culturais. “Temos que inovar em processos e produtos, nas normas e nas formas de se produzir. A palavra é oportunidade, o momento é da demanda por produtos que tenham identidade”.

 Um levantamento do potencial da cadeia produtiva do leite para o desenvolvimento do noroeste gaúcho foi apresentado pelo professor Dilson Trennepohl, da Unijuí. A região é responsável por 65% da produção de leite do Rio Grande do Sul. Nas últimas quatro décadas, o mapa da produção nacional leiteira vem sofrendo alterações, com a diminuição da concentração da produção no Sudeste e o aumento no Sul do Brasil – além do noroeste gaúcho, destacam-se o oeste paranaense e catarinense. 

O diretor da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, José Aldemar Batista, anunciou o Programa Leite Gaúcho. Ainda em fase de elaboração, a iniciativa tem como desafio melhorar a produtividade, articular a extensão rural, melhorar o crédito e trabalhar a certificação do leite, entre outros. José Getúlio Wingert, presidente da Cooperguarita, de Barra da Guarita, finalizou o painel. Ele falou sobre o papel das cooperativas da região e destacou que a Rede Leite tem atendido à necessidade dos cooperados de ter maior acesso às tecnologias.

 

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