Rede Leite mostra desafio de alimentar gado em “terra dobrada”


Genética e mix de forrageiras fazem parte da estratégia.


Encontro da Rede Leite analisa engenharia de produção da família Fuck.

Terreno acidentado, montanhoso, popularmente chamado de “terra dobrada” desafia pequeno agricultor a produzir leite no Noroeste gaúcho. Na quinta-feira (15/5), a família Fuck, do interior de Tenente Portela, mostrou algumas das estratégias que utiliza para garantir pasto e leite o ano inteiro, tendo de superar as adversidades oferecidas pelo terreno.  O encontro na propriedade da família Fuck foi organizado pela Rede Leite - Programa em Rede de Pesquisa-desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira no Noroeste do Rio Grande do Sul.

 A longa caminhada pelos cerca de 50 piquetes foi um teste aos pulmões dos visitantes. À sombra de uma árvore, o grupo de agricultores vindos de seis municípios debateu com os proprietários e os extensionistas da Emater/RS-Ascar sobre a engenharia do sistema de produção que eles presenciaram, com destaque para cinco tipos de pastagem perene: tifton, capim pioneiro, mombaça, brachiária e estrela africana. “Não podemos entrar nesta de que existe pasto milagroso. Todos eles têm condições, porém o manejo é determinante”, ponderou o técnico agrícola da Emater/RS-Ascar, José Rubens Hermann dos Santos. “Às vezes, o que falta é adubo”, concluiu Santos.

 “O que é mais importante, o manejo ou a pastagem?”, indagou o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Gilberto Bortolini. “Os dois são importantes e devem ser olhados em conjunto”, completou Bortolini.

 Na propriedade dos Fuck, a estratégia de consorciar forrageiras parece ter dado certo. Em três anos, desde que ingressaram na Rede Leite, a produção leiteira cresceu 63%.

 A dieta das vacas é complementada com ração. Cristiano, o caçula da família Fuck, fez questão de destacar que a ração é feita em casa, a partir de uma formulação orientada pela Emater/RS-Ascar. Para tanto, o milho cultivado na propriedade é armazenado em um silo de alvenaria, especialmente construído para essa finalidade.  “A qualidade da ração caseira não tem comparação”, sustentou o rapaz.

 Investimentos em genética também pesaram no aumento da produção. “O município tem adotado uma política de fornecer osêmen para que o próprio produtor de leite faça a inseminação”, disse Santos.

 Ao observar que o plantel de 15 vacas bebe água em apenas dois lugares na propriedade de 19 hectares – um açude e uma vertente de água no meio do capão de mato -, o assistente técnico regional de sistemas de produção
da Emater/RS-Ascar, médico veterinário Oldemar Weiller, sugeriu atenção especial da família a esse fato. “Se a vaca tiver de ‘pensar’ em subir e descer para tomar água, ela desiste”, hipotetizou Weiller.

 A presença de bernes – verme da mosca-varejeira, - também não passou despercebida. “É preciso entender a ecologia e a biologia destes parasitas, como bernes e carrapatos, que normalmente gostam de se esconder em moitas. O ideal é que os animais tenham sombra, mas em um ambiente arejado e iluminado, porque a vaca não gosta de mato, ela gosta de sombra”, justificou o veterinário da Emater/RS-Ascar.

 Sucessão Familiar

A permanência do filho mais moço na propriedade dos pais foi bastante comentada durante o encontro. Mesmo formado no curso de Filosofia, Cristiano abriu mão de um emprego na cidade para investir na produção de leite, com o auxílio da mulher, Patrícia. “Na medida do possível, eu fui remunerando o Cristiano. Se todos os pais fizessem assim”, refletiu o patriarca Derli Fuck. “Muitos pais culpam o governo quando os filhos saem de casa, mas a culpa não é só do governo”, concluiu Fuck. “Aqui podemos ver renda com participação”, elogiou o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, João Schommer.

 Os agricultores irão se reencontrar no próximo dia 17 de julho, na propriedade da família Jung, em Redentora.  

Informações

Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar

Jornalista Cleuza Noal Brutti